GovTech Brasil 1º dia – O primeiro passo para a criação de um Brasil Digital
O início da primeira conferência GovTech Internacional realizada no Brasil foi intenso, repleto de informações, debates e palestras inspiradoras. Nesse primeiro dia, o evento traçou um panorama de bons exemplos com as apresentações de casos da Estônia, Uruguai, Índia, Israel, Chile e Canadá. Também foram iniciadas discussões importantes para a criação de uma agenda consistente para a criação de um governo digital brasileiro. Questões como a reformulação das políticas de registro, identificação e cadastro dos cidadãos para a criação de uma nova e única identidade digital, além do papel da iniciativa privada nesse processo de evolução tecnológica que devemos enfrentar como nação.
Abertura emocionante
Logo no primeiro painel, Luciano Huck levou ao palco um exemplo vivo da luta com as instituições governamentais que o cidadão comum tem que enfrentar. Cris, uma mulher que, após ter a mãe ser sepultada como indigente, passou mais de 10 anos em uma batalha para conquistar o primeiro direito que dá origem a todos os outros em uma república: o documento de identidade. Em uma fala que escancarou um problema crônico das nossas estruturas, a filha de dona Arlete emocionou a platéia com seu relato. Foram mais de 15 órgãos governamentais até conseguir seu RG com o sobrenome da família, e mais dois anos até conquistar outros documentos como carteira de trabalho.
Esse relato e dados alarmantes de saneamento básico e crescimento da mortalidade infantil exemplificaram a fala de Letícia Piccolotto, diretora da fundação BRAVA e fundadora do BrazilLAB. “Vivemos desafios do século XVIII, e precisamos aproveitar todas as oportunidades do Século XXI”. Para Piccolotto, os empreendedores podem ser os protagonistas dessa transformação.
Ouvindo cases direto da fonte
Foi um grande privilégio, para os participantes no evento e as mais de mil pessoas que acompanharam via streaming, entrar em contato com figuras centrais de grandes cases. Personalidades como o ex-presidente da Estônia Toomas Hendrik Ilves, que apresentou as motivações e a forma como seu país saiu de uma posição difícil pós ocupação soviética e se tornou referência mundial em igualdade e governo digital. José Clastornik, do Uruguai, e Heidi Berner, do Chile, também apresentaram projetos de transformação que encabeçaram em seus países. Todos da platéia e quem assistiu online às apresentações puderam enviar perguntas via app para serem respondidas durante o evento, aprofundando o debate. Segundo Clastornik, “a tecnologia se transforma constantemente, por isso é preciso incorporar inovações sempre.” De acordo com ele, não se trata apenas de tecnologia, mas uma mudança de cultura dos envolvidos. No caso do projeto “Um Laptop Por Criança”, que colheu importantes resultados no Uruguai, o papel dos professores engajados em explorar a ferramenta digital foi fundamental para o sucesso, conta Clastornik, que na época estava à frente da Agência uruguaia de Governo Eletrônico e Sociedade da Informação.
A identidade digital e a arquitetura de informação necessária para uma rede segura e abrangente são pontos em comum a toda construção de um estado digital. Porém, uma questão levantada por Toomas Hendrik foi a vontade política, crucial para a evolução. E tanto Clastornik quanto o ex-presidente da Estônia concordam que a vontade política deve partir do ponto mais alto da hierarquia política. Essa constatação torna o evento ainda mais importante, em um momento latente quando estamos prestes a definir o novo presidente da república e a configuração do poder legislativo federal brasileiro.
Dan Balter, fundador da DUCO – Enterprise Systems Design – explanou sobre como Israel se tornou uma nação de startups. Antes de realizar grandes feitos, foi preciso dar o primeiro passo. Dan conta que Israel mapeou diversos desafios relacionados a produção, mobilidade, segurança, qualidade de vida e outros tópicos da sociedade. A partir desse universo de demandas, foram destacados cinco desafios estratégicos a serem abordados primeiro, o governo chamou startups e investiu em inovações. Não é à toa que o BrazilLAB apresentou, em sua campanha, un processo similar para aceleração de startups com soluções voltadas a esfera pública.
Foi dada a largada para a 3ª edição da aceleração BrazilLAB
Em meio a apresentações que iluminam o caminho para adaptações e inovações por aqui, o BrazilLAB abriu oficialmente a 3ª edição do seu processo de aceleração de startups. Letícia Piccolotto apresentou novidades significativas, como o aumento do investimento e novos desafios estratégicos selecionados. Agora, os projetos selecionados terão de R$ 50.000,00 a R$ 200.000,00 para desenvolvimento e implementação do projeto, e desafios como gestão de a RH e Cybersecurity foram adicionados às demandas da esfera pública. As inscrições para a terceira edição de 06/08 a 06/10 pelo site www.brazillab.org.br.
Mapa da informação
Ronaldo Lemos, do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), aprofundou a discussão sobre identidade digital apresentando conceitos de registro, identidade e cadastro do cidadão. O projeto “Mapa da Informação”, com resultados que serão atualizados constantemente e disponibilizados no site www.mapadainformacao.com.br, expõe a questão da burocracia e da pluralidade de documentação para podermos nos perguntas como melhorar esse quadro. Ronaldo Lemos compartilhou um sonho que também é um desafio: fazer com que o Brasil passe a ser vanguarda e crie o mais avançado sistema de identidade digital. Isso é possível dados os ótimos exemplos que podemos tomar como ponto de partida e a capacidade criativa do brasileiro, aliada à pressão da necessidade. “há modelos testados e isso é um ativo muito importante para o Brasil. A gente pode não só olhar para o que existe, mas para o que vem por aí,” afirmou Lemos.
Após a apresentação do Mapa da Informação, um painel reuniu visões diferentes e complementares sobre esta unidade básicas de um governo digital que é a evolução da identidade. Experiências como o risco de se transferir a burocracia em papel para a digital, a relação da automação com a redução da corrupção e conceitos avançados como a identidade auto-soberana.
O papel da iniciativa privada na digitalização de uma nação
Outro ponto alto deste primeiro dia do GovTech Brasil 2018 foi o bate-papo com Bill McGlashan, da The Rise Fund e TPG Growth. McGlashan é referência em gerar investimentos consistentes em startups e empresas que promovem grande impacto positivo na sociedade e no mundo. Segundo o investidor, o capitalismo passou por uma grande fase em que foi amoral, ou seja, era guiado estritamente pelo lucro. Esta nova fase que está relacionada ao futuro do investimento e a sinergia entre esfera pública e privada coloca na equação a mensuração de impacto social e/ou ambiental. Em outras palavras, o lucro não é algo ruim, ainda mais quando associado a uma melhoria da qualidade de vida da população. Não há conflito entre impacto na sociedade e resultado da empresa, já que é justamente por se sustentar economicamente que uma companhia pode ampliar a transformação que promove com sua atividade. Bill McGlashan afirmou que, inicialmente, a ideia era fugir de relações com o governo.Mas, criando-se sinergia, é possível ampliar o impacto positivo na vida das pessoas.
Foco no amanhã
Com essa visão de unir empreendedorismo, alta performance, tecnologia e políticas públicas, o primeiro dia do GovTech apresentou detalhes do Museu do Amanhã, suas conquistas e projetos diretamente inspirados. Acompanhe a sequência deste grande marco para o ecossistema de startups, cidades inteligentes e o futuro digital do governo.